Relatório: tarifas de água têm aumento global de 6,2%; saiba como o Brasil se compara
- NeoWater
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Após aumentos recordes em 2024, o crescimento médio global das tarifas de água ficou em 6,2% este ano. Alguns países, especialmente na Europa, tiveram aumentos maiores devido a investimentos em infraestrutura para enfrentar as mudanças climáticas. Saiba como o Brasil se compara

Mapa mostra a média do valor da tarifa de água (com base em consumo residencial de 15m³/mês) em dólar, e a média de aumento na tarifa combinada de água e esgoto por região entre 2024 e 2025. Fonte: GWI
Novo relatório da Pesquisa Global de Tarifas de Água 2025 da Global Water Intelligence (GWI), feito em parceria com a Arup, mostrou que o aumento médio na conta de água e esgoto foi de 6,2% no mundo todo.
Após aumentos recordes no ciclo de 2023-24, no qual o aumento médio global chegou pela primeira vez na casa dos dois dígitos - 10,7% -, o crescimento das tarifas pareceu retornar a uma taxa semelhante aos níveis pré-pandemia, com exceção da Europa e de países como Turquia e Argentina.
Os valores foram calculados a partir de dados tarifários da categoria residencial de 641 cidades em 190 países, com base em um consumo médio de 15 m³ por mês, combinando tarifas de água, esgoto e águas pluviais, quando aplicável.
O relatório considerou São Paulo uma das poucas cidades estudadas que viu uma pequena diminuição no valor da tarifa de água logo após a privatização da Sabesp, mas observou que isso só foi possível, entre outras coisas, devido a um aumento nas tarifas comerciais e industriais, especialmente com o fim dos contratos de demanda livre que davam descontos substanciais a grandes consumidores de água.
Saiba quais foram os países que tiveram os maiores aumentos na tarifa de água e por quê, e veja como o Brasil se compara em um ranking global:
O cenário mundial do aumento de tarifas de água
De acordo com o GWI, à medida que a inflação desacelerou no mundo todo, o crescimento das tarifas de água também desacelerou, em comparação com o ano passado. Nos locais onde os maiores aumentos tarifários ocorreram, o que os motivou foi, em geral, a necessidade de investimentos de longo prazo.
Por exemplo, no continente europeu, novas legislações e investimentos em infraestrutura para resistir às mudanças climáticas causaram aumentos recordes, como um aumento médio de 8,2% nas tarifas combinadas da Europa Ocidental, e de 9% Europa Oriental.
Esses números podem não parecer altos, mas, antes da pandemia, os países europeus não costumavam elevar tanto seus custos com água. A preocupação com secas, ondas de calor e incêndios florestais é o que tem pressionado essas nações por mais resiliência nos recursos hídricos.
O Reino Unido, por exemplo, suspendeu seu antigo teto para aumentos tarifários a fim de que as concessionárias de serviços públicos pudessem financiar planos ousados de investimento em infraestrutura ambiental.
Já a França fez mudanças na sua composição tarifária para aumentar as tarifas pagas por indústrias, aplicando o princípio do "poluidor-pagador" com objetivo de incentivar a redução do consumo e reduzir as tarifas de esgoto para usuários domésticos. A cidade de Toulouse chegou a introduzir uma nova taxa de verão, significativamente mais alta, para incentivar menor uso de água durante os meses mais secos.
Fora a Europa, a Turquia, o Cazaquistão e a Argentina registraram os maiores aumentos individuais por país.

Gráfico mostra as 10 cidades com os maiores aumentos percentuais na tarifa combinada de água e esgoto em 2025. Fonte: GWI
A Turquia vê instabilidade nas tarifas devido a mudanças climáticas, inflação econômica e demanda por infraestrutura. Sem uma reforma urgente, a escassez de água pode se agravar no país.
Já o Cazaquistão apostou em um aumento significativo de preços por sua necessidade de investimento em infraestrutura obsoleta e resiliência. Apesar disso, as tarifas no país permanecem baixas em relação ao que é praticado na maior parte do mundo.
Por fim, a Argentina vinha de um ciclo anterior com aumento médio de 613% na tarifa. Este ano, o número ficou em 62,3%. Apesar disso, a elevação representa uma continuação da política local adotada após a privatização de serviços públicos.
Curiosamente, a água continua sendo mais barata por lá do que no Brasil - o que sugere que locais com tarifas muito baixas por conta de subsídios ou defasagens ainda precisam subir bastante os valores praticados para poder melhorar o serviço e/ou a arrecadação.
Vale observar que, dentre as cidades pesquisadas, quase metade (48%) não alterou suas tarifas em comparação com 2024, ante 43% no ano passado. Para o GWI, apesar da preocupação cada vez maior com questões hídricas, as tarifas de água continuam altamente políticas, com as partes interessadas frequentemente resistindo a aumentos por conta de sua impopularidade, apesar da necessidade de mais investimentos.

289 cidades não viram mudança nas tarifas no ciclo de 2024 para 2025, enquanto 263 tiveram aumentos acima da inflação e 64 tiveram aumentos abaixo da inflação. Fonte: GWI
E o Brasil?
A América do Norte manteve sua taxa de crescimento anual na casa dos 5%, com um aumento médio de 5,5% entre 2024-25. Já a América Latina, depois de anos de alto crescimento das tarifas e de um aumento recorde no ano passado, teve aumento médio de 5,7% este ano (ou 5,9% se contar o Caribe), ficando mais próxima do Norte pela primeira vez.
De forma geral, o aumento das contas de água no Brasil ficou em 5,8%. No entanto, existem diferenças entre as principais cidades brasileiras incluídas do relatório (ver tabela abaixo).
São Paulo foi a única que reduziu o valor de sua tarifa de água residencial, embora a diminuição tenha sido modesta: 0,6%.

Principais cidades que tiveram reduções de valor na tarifa residencial combinada de água e esgoto em 2025. Fonte GWI
Segundo o GWI, essa manobra foi possível graças ao modelo robusto de privatização da Sabesp e ao aumento das tarifas industriais - que, ao contrário das residenciais, em alguns casos viram um salto significativo nos custos para os pagantes.
As tarifas em São Paulo também ficaram com preço médio abaixo de outras cidades brasileiras incluídas na pesquisa, como Rio de Janeiro e Brasília.
Cidade | Concessionária | Tarifa (US$/m³) | Aumento médio (%) |
---|---|---|---|
Canoas-RS | CORSAN | 2,85 | 6,5% |
Campinas-SP | SANASA | 2,63 | Sem dados (cidade recentemente incluída na amostragem) |
Rio de Janeiro-RJ (Zona 4) | Águas do Rio | 2,51 | Sem dados (cidade recentemente incluída na amostragem) |
Rio de Janeiro-RJ (Zona 2) | Iguá Rio de Janeiro | 2,48 | Sem dados (cidade recentemente incluída na amostragem) |
Rio de Janeiro-RJ (Zona 1) | Águas do Rio | 2,44 | 9,8% |
Curitiba-PR | SANEPAR | 2,35 | 4,1% |
Recife-PE | COMPESA | 2,34 | 10% |
Salvador-BA | EMBASA | 2,28 | 0% |
Goiânia-GO | SANEAGO | 2,27 | 4,2% |
Fortaleza-CE | CAGECE | 2,25 | 8% |
Brasília-DF | CAESB | 2,15 | 8,9% |
Rio de Janeiro-RJ (Zona 3) | Rio+ Saneamento | 2,15 | Sem dados (cidade recentemente incluída na amostragem) |
Joinville-SC | Águas de Joinville | 2,06 | Sem dados (cidade recentemente incluída na amostragem) |
Belo Horizonte-MG | COPASA | 2,05 | 6,4% |
São Paulo-SP | SABESP | 1,63 | -0,6% |
Porto Alegre-RS | DMAE | 1,07 | 6,6% |
São José do Rio Preto-SP | SeMAE | 0,98 | Sem dados (cidade recentemente incluída na amostragem) |
Jacobina-BA | Central - Sistemas de Saneamento de Jacobina | 0,63 | Sem dados (cidade recentemente incluída na amostragem) |
Valor da tarifa de água (da maior para a menor) e aumento médio nas cidades brasileiras incluídas na pesquisa do GWI. Os maiores aumentos foram vistos em Recife, Rio de Janeiro (Zona 1), Brasília, Fortaleza e Porto Alegre.
Ranking dos países: onde a água é mais cara no mundo?
Este ano, a Dinamarca passou as nações insulares - que historicamente sofrem com escassez e dificuldades de acesso à água potável - no que diz respeito ao custo da água.
Os dinamarqueses já estavam acostumados a pagar por serviços públicos de alto padrão, mas um movimento regulatório em toda a Europa com o objetivo de garantir proteção contra as mudanças climáticas afetou ainda mais os preços por lá. Foi a primeira vez, desde que o relatório foi lançado, que uma cidade ultrapassou o valor de US$ 10 por m³ de água.
Na outra ponta da tabela, a Irlanda continua sendo o único país com água gratuita no mundo, embora muitas nações tenham cidades com tarifas extremamente baixas, o que faz com que sofram com serviços de má qualidade e/ou dependam enormemente de subsídios governamentais.
Das dez nações ou territórios com a água mais cara do mundo, nove são europeias. Se considerarmos as 20 mais caras, só quatro ficam fora da Europa: as Ilhas Virgens Americanas, Nauru, Curaçao e os EUA.
O Brasil fica na 66ª posição do ranking entre 200 nações e territórios analisados. A África do Sul, em comparação, tem água mais cara que a nossa na média (41ª posição), assim como o Uruguai (59ª) e o Chile (61ª).
Já países como Colômbia (77ª), México (85ª), Argentina (83ª), Peru (102ª), China (134ª) e Índia (190ª) têm água mais barata, sendo que a Índia abre a parte debaixo da lista, das dez nações com tarifas mais baixas no mundo.
Top 10 países com água mais cara do mundo (2025)
País | Tarifa combinada (US$/m³) | Aumento médio |
---|---|---|
Dinamarca | 10,10 | 5,1% |
Ilhas Virgens Americanas | 9,18 | 0% |
Ilhas Cayman (Reino Unido) | 8,52 | 0% |
Anguilla (Reino Unido) | 8,05 | 0% |
Alemanha | 7,81 | 3% |
Islândia | 7,80 | 4% |
Mônaco | 7,56 | 7,95% |
Noruega | 7,47 | 9,7% |
Bélgica | 7,45 | 10,8% |
Bermudas (Reino Unido) | 7,38 | 0% |
Top 10 países com água mais barata do mundo (2025)
País | Tarifa combinada (US$/m³) | Aumento médio |
---|---|---|
Índia | 0,12 | 4,19% |
Somalilândia | 0,12 | 0% |
Honduras | 0,11 | 0% |
Nigéria | 0,09 | 0% |
Brunei | 0,09 | 0% |
Etiópia | 0,07 | 0% |
Mianmar | 0,05 | 0% |
Egito | 0,04 | 0% |
Líbano | 0,01 | 0% |
Irlanda | 0,00 | 0% |
Confira a tabela completa com os valores de 189 países e territórios analisados aqui.